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  • Foto do escritorZelmute Marten

Os prejuízos da desconfiança e a Aliança pela Ação Climática

São intangíveis, incomensuráveis e indiscutivelmente muito significativos os prejuízos promovidos pela desconfiança em uma sociedade. Práticas baseadas em especulações, arroubos, inverdades e prepotência, desestabilizam processos, paralisam negócios, retardam políticas públicas e impedem novos investimentos. Há muitos anos tenho criticado o avanço do capital especulativo, em sobreposição ao capital produtivo. No que concerne aos desafios da transição energética, especialmente do setor elétrico brasileiro, seria absolutamente pertinente e necessário o engajamento efetivo das autoridades do país num grande esforço voltado à superação do ambiente de instabilidade e insegurança. Conceber com transparência, concertação e governança uma legislação que incentive o setor a partir do interesse do consumidor e da sociedade; adotar parâmetros de Estado com planejamento de longo prazo; investir substancialmente em inovação, ciência, tecnologia; potencializar instrumentos disponíveis como reservas cambiais e o espaço fiscal para apresentar um sistema de financiamento estável, indutor de novos projetos. Enfim, promover alternativas factíveis para contrapor uma trajetória inclinada ao subdesenvolvimento.


Os complexos desafios apresentados pela maior crise sanitária desta geração, responsável, entre outros fatores, pela mais grave situação econômica desde 1929, podem se apresentar como oportunidades para consolidar um entendimento acerca da importância da intervenção estatal, no sentido de indicar cenários e estratégias efetivas no enfrentamento da pior circunstância social desde a II Guerra Mundial. Recentemente, em participação na reunião-almoço da Câmara de Comércio Brasil - Alemanha no Rio Grande do Sul, em 11.5.2020, o então Embaixador da Alemanha no Brasil, Dr. Georg Witschel, foi enfático, “A vida é real, não de sonhos. Esta crise supera tudo até hoje. Ainda não temos como prever os efeitos para a economia. A dívida pública da Alemanha, de 60% do PIB, poderá chegar há 80%. Nosso ministro da Fazenda está determinado a abrir mão da bazuca, pois temos dinheiro disponível para superar a agrura e vamos utilizar para salvar empresas e empregos”. Destacou, ainda, os laços de confiança que caracterizam o seu contexto social estruturado, “em nosso país inexistem conflitos entre o governo, legislativo e a suprema corte. Vamos injetar dinheiro em energias renováveis, o Pacto Verde Europeu precisa ter maior vigor. Estamos dispostos a investir 500 bilhões de euros na União Europeia. Vivenciamos a possibilidade de recuperar a economia, combinando com a proteção climática”, expressou.


Em recente encontro de trabalho da Cúpula Um Planeta para a Biodiversidade, em 11.1.2021, dezenas de chefes de Estado e Governo, líderes de organizações internacionais e empresários estiveram reunidos para tratar da emergência climática. Para o secretário-geral da ONU, António Guterres, “2021 deve ser o ano de reconciliar a humanidade com a natureza”, procrastinou. O evento, organizado pela França, em cooperação com as Nações Unidas e o Banco Mundial, quer intensificar o combate à mudança climática e discutir os reptos criados pela pandemia da Covid-19. As temperaturas estão atingindo níveis recordes, a biodiversidade entra em colapso, os desertos crescem e incêndios, inundações e furacões são mais frequentes e extremados. As mesmo tempo, a pandemia já causou aproximadamente dois milhões de mortes e arrasou economias. Pela primeira vez neste século, a pobreza está aumentando e as desigualdades se aprofundando. Durante o evento, o presidente da França, Emmanuel Macron, anunciou que a iniciativa Grande Muralha Verde para o Sahel e Saara recebeu US$ 14.2 bilhões em novo financiamento. Os fundos devem acelerar os esforços para restaurar terras degradadas, salvar a biodiversidade biológica, bem como criar empregos verdes.

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Superar as contendas que levaram a ausência do Brasil e dos Estados Unidos na Cúpula da Ambição Climática da ONU, promovida em celebração aos cinco anos do Acordo de Paris, em 12.12.2020, recebe novo sentido com a posse de Joe Biden e a reconciliação do país com a agenda climática. Limitar o aumento da temperatura global a 1.5ºC com relação aos níveis pré-industriais, envidando metas baseadas na ciência, deve se apresentar como compromisso irrevogável de todos os líderes que mantêm condições de prosseguir governando seus países. Aceitar qualquer exemplo em contradição com esta urgência mundial deve ser descartado sumariamente. Na próxima quinta-feira, 28.1.2021, às 14h, com transmissão ao vivo pelo Youtube (http://bit.ly/390SCS6) está confirmado o lançamento da Aliança pela Ação Climática - ACA Brasil. Uma iniciativa que conta com o apoio da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), ICLEI América do Sul, Instituto Clima e Sociedade, CDP LatinAmerica, Centro Brasil no Clima, de Estados subnacionais, com o objetivo de aproximar o centro da preocupação nacional à busca pela adoção de medidas críveis que se contraponham ao aquecimento global. O intuito é a formação de redes de governos locais e estaduais, com ações concretas para conter as mudanças climáticas, estimulando a adoção de metas mais ambiciosas em nível federal. A partir de premissas como transparência, trajetórias de descarbonização e visibilidade, busca-se formar coalizões que se transformem em vozes poderosas contra o aquecimento global. Através de metodologias de engajamento, capacitação, perceptibilidade, o ideário também se volta para a ampliação das oportunidades de financiamento internacionais. É imprescindível o fortalecimento da sociedade civil para a recuperação do ambiente de confiança interna em nosso país.

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