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  • Foto do escritorZelmute Marten

Smart Cities: a revolução das cidades


A QUAYSIDE, em Toronto, na província canadense de Ontário, é uma zona portuária industrial. Silos para estocar soja, erguidos na década de 40, destacam-se no horizonte. Ali, em uma área de três quilômetros quadrados, o Google pretende erguer seu modelo de cidade 100% inteligente. A cargo do Sidewalk Labs, da Alphabet, dona da big tech, o plano é anunciado como o “primeiro bairro construído a partir da internet”.


Onipresente em buscas na internet (o Google possui 92% do setor), smartphones (75% dos aparelhos usam Android, seu sistema operacional) e navegação por GPS (Google Maps e Waze somam 79% do mercado de mapas), a Alphabet propõe um espaço urbano que seja, ele próprio, uma plataforma digital. Internet das coisas (IoT), big data, machine learning, inteligência artificial. Uma cidade moldada às expectativas de seus moradores; tão dinâmica quanto o dia a dia de seus habitantes. Flexível.


Em Quayside, não haverá desnível entre ruas e calçadas. A pavimentação modular, batizada Dynamic Street, graças às lâmpadas LED, muda de cor para atender às necessidades do momento e redefinir as áreas para automóveis e pedestres. Os carros, autônomos, se adaptam às novas regras de circulação automaticamente. Os postes de luz, lixeiras e bancos se encaixam no piso como peças de Lego. Os edifícios podem ganhar ou perder paredes e até mesmo andares, de acordo com a ocasião. Os galpões oferecem os chamados “espaços de engajamento temporário”. Um dia eles podem ser restaurante, no outro coworking para novas startups e/ou escritório para as indústrias mais tradicionais.


Na concepção dos idealizadores de Quasyde, a cidade do futuro é sustentável, inclusiva e estimula a ocupação dos espaços públicos. No bairro do Google a ideia é que os toldos sobre as calçadas se abram ou se fechem conforme as mudanças climáticas. Enquanto Quayside não sai do papel, as cidades reais vivem uma revolução. O futuro já é realidade, atrai interesses e impacta todos os setores da economia. “Entre 2016 e 2018, o investimento em tecnologia urbana totalizou cerca de US$ 75 bilhões, o que equivale a 17% de todo o investimento global de capital de risco”, afirmou à Época Negócios o arquiteto e engenheiro italiano Carlo Ratti.


Em conversa com a Época Negócios, Cameron Carr, diretor mundial de estratégia de IoT da Microsoft, a maior big tech do mundo, declarou: “Smart cities é provavelmente o setor mais complexo de nosso tempo. É impossível para uma empresa, ou mesmo um pequeno grupo de gigantes, atender a todas as demandas”. Para ele, as principais áreas para inovação urbana são, em ordem, segurança, transporte e, em um terceiro lugar mais distante, saúde.

Em outros aspectos da construção das cidades do futuro, startups e centros de pesquisas em universidades espalhadas pelo mundo montam casa de concreto em impressoras 3D, como acontece em Eindhoven, na Holanda. Desenvolvem plataformas de previsão do tempo ultraprecisas, via IoT. Ou fazem fazendas verticais, no topo dos prédios de centros agitados como os de Paris, Viena ou Berlim.


Em 2014, quando o tema cidades inteligentes começava a ganhar destaque, a IESE, escola de negócios da Universidade de Navarra, na Espanha, criou o ranking Cidades em Movimento - hoje o mais respeitado do mundo. A pesquisa leva em conta 106 indicadores, como taxa de desemprego, pontos de wifi público, extensão de linha de metrô, qualidade do ar, taxa de homicídios e escolaridade, em nove dimensões: economia, capital humano, acesso a serviços internacionais, mobilidade e transporte, meio ambiente, tecnologia, planejamento urbano, governança e coesão social. Entre as 174 analisadas, a liderança é de Londres.


Cidades inteligentes e mobilidade urbana estão intrinsicamente conectadas. Na área de transporte, Jinan, a 400 quilômetros de Pequim, é exemplar. Lá, mais de 7 milhões de motoristas e pedestres são monitorados com riqueza de detalhes. Tanto que, no último dia 20 de maio de 2019, um homem foi multado por coçar o rosto. A inteligência artificial interpretou que ele dirigia enquanto falava no celular. As imagens das câmeras de trânsito e o sinal de GPS de milhões de smartphones alimentam de informações o Didi Smart Transportation Brain. O cérebro eletrônico criado pela gigante Didi Chuxing comanda semáforos e faixas reversíveis em mais de 30 ruas e 450 cruzamentos, além de operar o aplicativo de ride sharing da empresa, que oferece carros, patinetes, bicicletas e um ônibus que passa quando há demanda.


No estudo da IESE: “Londres reúne mais startups e programadores do que quase qualquer outra cidade do mundo, e tem uma plataforma de dados abertos (London datastore) usada a cada mês por mais de 50 mil cidadãos, pesquisadores e desenvolvedores”. O Brasil ainda tem muito a crescer. Das nossas cidades, a mais inteligente é o Rio de Janeiro, em 128º lugar. Em seguida, Brasília (130º), São Paulo (132º), Curitiba (140º), Salvador (146º) E Belo Horizonte (151º). Na região serrana do Rio Grande do Sul há um ambiente favorável à instalação destas experiências. Para o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) coesão social se define como solidariedade social, quando os envolvidos se sentem integrantes de uma mesma comunidade e, portanto, interdependentes. Este é o caminho das cidades inteligentes do futuro.

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